Este final de semana foi marcado
por alguma agitação no PS, que vai levar a uma reunião da sua Comissão Política
Nacional na próxima terça-feira, 29/1 e a uma Comissão Política Nacional destinada
a marcar o futuro XIX Congresso Nacional, as eleições directas para Secretário-Geral
e a aprovar o Regulamento do Congresso, que já terá lugar na vigência dos
Estatutos actualizados no Congresso anterior.
Sou daqueles que sempre
considerou que o actual Governo PSD/CDS dificilmente aguentaria mais de dois
anos face à sua génese e contradições de sempre e às suas orientações políticas
ultraliberais, mascaradas com promessas eleitorais absolutamente contraditórias
com o que eram as opções político-ideológicas dos dois partidos no final de
2010 e início de 2011, e com os compromissos que tinham assinado no âmbito do
memorando Portugal/Troika.
Sou também dos poucos militantes
do PS que nos órgãos a que pertenço e em reuniões de debate político tem defendido
não ter ainda o PS apresentado uma alternativa política global que seja convincente
em termos de estabilidade política e governativa. E que vai ter muita
dificuldade de o fazer devido aos compromissos que assinou enquanto Governo de
José Sócrates com a Troika, aos descrédito generalizado dos portugueses nos
actores políticos que as redes sociais vêm acentuando, muitas vezes de forma
injusta, e à óbvia impossibilidade de realizar acordos à esquerda mantendo os
compromissos assinados com os nossos parceiros europeus que são essenciais para
garantir a solvência do País no curto prazo.
Esta perspectiva de crise
governamental não é afastada pelo “sucesso” como agora é apresentada a emissão
de dívida pública desta semana e a concessão de um prazo maior para pagamento
dos empréstimos concedido pela EU e pelo BCE (sem prejuízo de serem notícias
positivas para Portugal). Sucesso que tem sobretudo a ver com uma manobra de
apoio ao Governo pelos responsáveis pela Troika para tentarem justificar que o
processo de ajustamento português está correr bem quando a situação económica e
social caminha rapidamente para catástrofe, mas que fica ainda aquém das
condições que o PS vem reclamando para que seja possível uma política de
consolidação orçamental e da dívida pública sustentável acompanhada de
crescimento económico e do emprego que não degrade ainda mais as condições de
vida dos portugueses.
Perante esta perspectiva de crise
e realizações antecipadas que a chamada “reestruturação das Funções Sociais do
Estado” e a dificuldade em no próximo ano encontrar mais privatizações como as
da ANA para tapar o buraco do deficit
(e ainda resta saber se o Eurostat vai aceitar a manobra contabilística deste
ano com a concessão da ANA), o PS agita-se e António José Seguro irrita-se, o
que não é uma boa reacção do Secretário-Geral.
Mas quem se agita no PS?. Por um
lado os apoiantes de uma potencial candidatura de António Costa a Secretário-geral,
que é perfeitamente natural que possa acontecer num partido democrático como o
PS, e que que não deve motivar irritações ninguém, ainda que sendo amigo de
Costa pense que deveria tê-la apresentado em 2011 e que não deveria ter passado
este tempo a manter uma indefinição que não é favorável à necessidade de
estabilidade e reorganização do PS.
Mas onde se sente mais esta
agitação no PS? Claramente a nível de Grupo Parlamentar, hoje maioritariamente
constituído por deputados escolhidos por José Sócrates e seus fiéis, muitos
deles claramente responsáveis por erros políticos de palmatória cometidos na
base do seguidismo acrítico do chefe.
É que com a possibilidade de
eleições muitos desses deputados sabem que com a actual liderança do PS e com a
introdução das eleições primárias internas não terão possibilidade de ser de
novo incluídos nas listas em lugares elegíveis. Daí a sua impaciência e a
necessidade de provocar alterações a curto prazo, de forma a baralhar e dar de
novo, para ver se a nova “mão” é mais favorável.
É pois necessário que no PS se
clarifiquem as águas, mas que serenidade prevaleça e que os militantes saibam
distinguir o essencial do acessório e que nas próximas eleições façam escolhas
com base em propostas de estratégias políticas fundamentadas e viáveis, que
girarão à volta de duas alternativas:
-Pode o PS denunciar o acordo com
a Troika de que foi principal negociador para procurar bases para uma coligação
à esquerda que me parece extremamente difícil de estabelecer em bases seguras?
-O PS deve aguardar que o Governo
caia por si, de “maduro”, mesmo com alguns empurrões, e tentar a partir daí
obter uma maioria absoluta, como parecer acreditar a actual Direcção do PS?
- Ou a solução para os problemas
nacionais, que exigem um consenso sério e não de fachada como aquele que actual
Governo pretende fazer quere que defende, devem fazer com que o PS se empenhe
em explorar a possibilidade de constituição de um governo de base alargada à
sua esquerda e direita, o que não será fácil, dispondo-se a sacrificar alguns
dos seus interesses partidários (que não os princípios e valores fundadores)
durante algum tempo para mais facilmente ultrapassar a situação do País?
Em qualquer caso a importância do
PS reforçar a sua acção de oposição construtiva e de projecto, no plano interno
e com grande empenho, nomeadamente no Parlamento Europeu, Fóruns Comunitários e
junto dos partidos irmãos do Partido Socialista Europeu, não pode ser
descurada.
E, para isso, venha o Congresso
da clarificação o mais cedo possível.