terça-feira, 16 de agosto de 2011

Um rico com responsabilidade social


 

O diálogo entre Colbert e Mazarino, que aqui publiquei, é um clássico do debate político-económico esquerda/direita foi-me lembrado pela notícia SIC/Lusa de 15/8/2008 que mais abaixo transcrevo.

As declarações de Warren Buffet assentam como uma luva à decisão do Governo de Passos Coelho de criar um “imposto extraordinário” sobre o 13º mês de todos os trabalhadores portugueses, deixando de fora todos os proventos dos mais ricos em dividendos, juros, mais valias bolsistas, etc…, ao contrário dos que dizia na pré-campanha e campanha eleitoral sobre o não pedir mais sacrifícios aos portugueses e dos que houvesse de fazer em função do acordo com a famosa “Troika” serem distribuídos equitativamente.

Não sei se os muito ricos portugueses estarão dispostos a contribuir voluntariamente para ajudara resolver a crise minorando os sacrifícios dos portugueses de menos recursos da mesma maneira que Warren Buffet diz dos ricos americanos. Mas é certo que quando em 1983, no Governo de Bloco Central de Mário Soares, foi feito o 2º acordo com O Fundo Monetário Internacional, também foram impostos sacrifícios aos portugueses em relação ao 13º mês. Para os que se não lembram, este foi retido e pago em títulos do tesouro que só puderam ser levantados algum tempo mais tarde.

Mas, nesses tempos, os rendimentos de capitais também foram todos taxados. Ou seja, os sacrifícios tocaram a todos, não ficando de fora aqueles que, genericamente, tinham mais posses.

Mas eram outros tempos em que as ideias de justiça social ainda não tinham caído abaixo do mínimo e em que o projecto europeu ainda não era “comandado” por Merkle, Sarkozy, Berlusconi, Barroso e outros que tais. Havia Delors, Miterrand, Khol e havia ideias assentes, na linha dos fundadores, sobre o o modelo europeu de solidariedade, justiça e paz, muito para além da ideia do “mercado governador da racionalidade económica”.

Mas aí fica a notícia.



Warren Buffett, o terceiro homem mais rico do mundo segundo a revista Forbes, pediu hoje aos políticos para deixarem de "mimar" os ricos com isenções fiscais, aumentando os impostos sobre milionários como ele próprio.



"Enquanto os pobres e a classe média lutam por nós no Afeganistão e a maioria dos norte-mericanos lutam para fazer face às suas despesas, continuamos com as nossas extraordinárias isenções fiscais", afirmou Buffett num artigo publicado hoje no New York Times, intitulado "Parem de mimar os super ricos".

O presidente da Berkshire Hathaway disse que, no longo debate no Congresso norte-americano sobre o aumento do limite da dívida pública, os líderes políticos pediram um "sacrifício partilhado" que, no entanto, as classes superiores não terão de assumir.

Para desbloquear as negociações e evitar que os Estados Unidos entrassem em falência a 02 de agosto, o Partido Democrata e o presidente Barack Obama cederam à pressão dos Republicanos e renunciaram a aumentar os impostos sobre os rendimentos mais altos e as empresas mais lucrativas.

"Alguns de nós somos gestores de fundos de investimento e ganhamos milhões de dólares por dia, mas é-nos permitido classificar os ganhos como rendimentos de juros", que são taxados com apenas 15 por cento, afirmou Buffett.

Com "bênçãos" como estas, o bilionário admite que no ano passado declarou de em rendimentos mais de 6,9 milhões de dólares (cerca de 4,8 milhões de euros ao câmbio atual), o que implica uma tributação de 17,4 por cento, enquanto os trabalhadores foram tributados numa média de 36 por cento.

Buffett, também chamado "Oráculo de Omaha" pelas suas previsões certeiras, considera que esta situação é uma injustiça nos Estados Unidos, onde 80 por cento das receitas vêm de impostos sobre os salários dos trabalhadores.

Buffett refere que os seus amigos bilionários são "em geral pessoas muito decentes" pelo que "muitos não se importariam de pagar mais impostos, particularmente quando muitos de seus compatriotas estão a sofrer".

Para corrigir esta situação, propõe aumentar o imposto sobre os rendimentos superiores a um milhão de dólares, "incluindo dividendos e ganhos de capital", e impostos ainda mais altos para aqueles que ganhem mais de dez milhões de dólares.

"Os meus amigos e eu termos sido mimados por um Congresso bastante amigável para os ricos. Chegou a hora de o nosso governo ser sério sobre a partilha dos sacrifícios", acrescenta Buffett.


P.S.- Não conheço a fortuna do Sr. Warren Buffet. Mas para ser o 3º homem mais rico do Mundo e referir que ganha milhões de dólares por dia, não pode ter declarado apenas 6,9 milhões de dólares de rendimentos, mas sim 6,9 milhares de milhão. Coisas de matemática elementar ( conhecimento do sistema decimal de numeração e métrico) que a maioria dos nossos jornalistas e não só (andam para aí uns ditos economistas/comentadores económicos que, por pseudo-modernice ou ignorância, não sabem que a seguir a milhão vem o milhar de milhão e só depois o bilião) desconhece e os leva a não saber fazer corresponder a designação, mal usada por eles, bilião americano a milhar de milhão que é o correcto no sistema de numeração que usamos. Seria bom que o Ministro da Educação, que de Matemática sabe ( coisa que duvido que aconteça relativamente ao Sistema Educativo do Ensino não Superior Português) desenvolva um curso das “ Novas Oportunidades” ( onde erros houve e que pessoalmente bem critiquei mas que muito de positivo teve de tal forma que até Marcelo Rebelo de Sousa veio em sua defesa contra Passos Coelho) para esses jornalistas e economistas comentadores frequentarem e aprenderem o sistema de numeração decimal, que os americanos também já adoptaram oficialmente, ainda que continuem a utilizar várias unidades de grandezas de sistemas diversos. ( por exemplo continuam genericamente a vender gasolina ao galão americano

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

As políticas repetem-se ao longo dos séculos?

Será que os problemas que hoje enfrentamos são assim tão novos? E será que, para os desafios económicos, as receitas dos "iluminados economistas neoliberais" são assim tão novas?

Não resisto deixar-vos este texto relatado como uma conversa entre Colbert e Mazarino, ministro de Luís XIV que havia levadoa França à beira da bancarrota com a sua mania das grandezas.
Um pouco como nós portugueses que sempre gostámos muito de dar uma voltas de "Ferrari" sem quere saber de que se calhar nem dineiro para andar de Fiat tínhamos (passe a publicidade às marcas do grupo italiano).

"DIÁLOGO ENTRE COLBERT E MAZARINO DURANTE O REINADO DE LUíS XIV
Colbert foi ministro de Estado e da economia do rei Luiz XIV.
Mazarino
era cardeal e estadista italiano que serviu como primeiro ministro na França. Notável coleccionador de arte e jóias, particularmente diamantes, deixou por herança os "diamantes Mazarino" para Luís XIV em 1661, alguns dos quais permanecem na coleção do museu do Louvre em Paris.

O diálogo:

Colbert: Para encontrar dinheiro, há um momento em que enganar (o contribuinte) já não é possível.

Eu gostaria, Senhor Superintendente, que me explicasse como é que é possível continuar a gastar quando já se está endividado até ao pescoço...

Mazarino: Se se é um simples mortal, claro está, quando se está coberto de dívidas, vai-se parar à prisão.

Mas o Estado... o Estado, esse, é diferente!!! Não se pode mandar o Estado para a prisão. Então, ele continua a endividar-se... Todos os Estados o fazem!

Colbert: Ah sim? O Senhor acha isso mesmo ? Contudo, precisamos de dinheiro.

E como é que havemos de o obter se já criamos todos os impostos imagináveis?

Mazarino: Criam-se outros.

Colbert: Mas já não podemos lançar mais impostos sobre os pobres.

Mazarino: Sim, é impossível.

Colbert: E então os ricos?

Mazarino: Sobre os ricos também não. Eles deixariam de gastar. Um rico que gasta faz viver centenas de pobres.


Colbert: Então como havemos de fazer?

Mazarino: Colbert! Tu pensas como um queijo, como um penico de um doente! Há uma quantidade enorme de gente situada entre os ricos e os pobres: São os que trabalham sonhando em vir a enriquecer e temendo ficarem pobres. É a esses que devemos lançar mais impostos, cada vez mais, sempre mais! Esses, quanto mais lhes tirarmos mais eles trabalharão para compensarem o que lhes tiramos. É um reservatório inesgotável."

Pois, para os mais dados a comparações é só olhar para o que se passa entre nós e não só.